© Rubens Queiroz de Almeida

Ao estudar um idioma estrangeiro, frequentemente estabelecemos para nós mesmos um nível de cobrança totalmente irreal. Temos medo de errar, e como não errar é praticamente impossível ao começarmos uma nova atividade, criamos um bloqueio sério. Muita gente não aprende inglês por conta destes bloqueios autoimpostos.

Quando comecei minha carreira como professor de inglês, tive uma experiência que me atormenta até hoje. Era o primeiro dia de aulas de uma turma para iniciantes. As aulas consistiam em tocar um diálogo em um gravador e os alunos repetiam as frases de várias formas, em grupo e individualmente. Na melhor das intenções, sempre que alguém errava a pronúncia de uma palavra, eu tentava corrigir, repetindo a frase da maneira correta.

Uma das alunas, estudante de medicina, tinha muita dificuldade de repetir as palavras com a pronúncia correta e eu a corrigi várias vezes. Bom, a moça não voltou para as próximas aulas. Não sei o que se passou pela cabeça dela, se não gostou da aula ou de mim, ou se começou a pensar que não conseguia mesmo aprender inglês. Mas tenho certeza que as minhas correções não ajudaram.

Lembro-me também de um outro aluno que era um excelente comunicador. Uma das atividades da escola consistia em sair para as ruas com uma filmadora para entrevistar as pessoas. Este rapaz era muito divertido, arrancava boas risadas das pessoas e era muito fluente. Fluente, mas também errava muito. Hoje vejo que isto não era um problema, mas na época ele foi reprovado pois não conseguia obter a nota mínima nos exames. Fiquei muito chateado com isto, mas não pude fazer nada, pois nós professores recebíamos um conteúdo enlatado, que precisava ser cumprido e as provas eram padronizadas. O rapaz saiu da escola e possivelmente carrega um bloqueio até hoje, bloqueio desnecessário, pois o mais importante ele fazia muito bem: se comunicar. Com o tempo, ele teria desenvolvido seu conhecimento do idioma e adquirido um ótimo domínio da língua inglesa.

O problema maior é quando a pessoa começa a pensar que não leva jeito para idiomas, que aprender inglês é muito difícil. Saber inglês hoje é fundamental para desempenhar qualquer profissão de maneira competente, seja para interagir com profissionais de outros países ou para manter-se atualizado. É muito triste que muitas pessoas se vejam privadas deste conhecimento por conta da inadequação da metodologia de algumas (todas?) escolas de idiomas.

De qualquer forma, aprendi a lição. Para a maioria das pessoas, a correção exagerada leva a resultados desastrosos. Depois desta experiência, quando eu precisava corrigir alguém, tomava muito cuidado. Geralmente eu repetia a frase errada me dirigindo a outro aluno, de forma a mostrar a forma correta de uma forma subliminar. Aprendi também que errar faz parte do aprendizado, se não erramos não aprendemos.


Desmistificando o erro

Por algum tempo, eu dei aula para crianças também. Crianças são mais desinibidas, mas, mesmo assim, eu ensaiei com elas todo um teatrinho para tratar da questão do erro. O procedimento consistia em ensinar a elas algumas frases que elas pudessem usar sempre que não soubessem alguma coisa.

Se a criança não soubesse responder a uma pergunta, ou errasse em sua resposta, ela deveria se levantar e dizer: “Ah teacher, I forgot, I am sorry!“. Esta frase deveria ser acompanhada de movimentos dos braços (abrir, fechar, etc), e se possível acompanhada de muitas risadas. Foi uma ótima experiência, as crianças adoraram e de quebra aprenderam uma frase legal 😉

Pena que nem sempre podemos fazer isto com adultos, né?


As quatro fases do aprendizado da língua inglesa

O aprendizado de um idioma passa por quatro fases distintas:

  1. Erramos mas não sabemos que erramos;
  2. Erramos mas sabemos que erramos;
  3. Falamos corretamente mas não da melhor forma;
  4. Falamos bem, corretamente e com as palavras certas.

O problema é que as pessoas querem começar pela quarta fase. A má notícia é que isto não é possível. Para chegar na quarta fase é preciso passar pelas outras três. Mas isto também pode ser divertido, basta perder o medo de errar e falar muito 😉


A prática da conversação

É muito importante praticar e existem diversas formas de fazer isto:

  1. Falar sozinho: converse com você mesmo em inglês, não importa se cometer erros;
  2. Pratique com um amigo, não importa o nível de inglês que ele tenha, se fala certo ou errado;
  3. Contrate um professor de conversação;
  4. Converse com um nativo da língua inglesa. Existem hoje diversos sites que colocam em contato pessoas que desejam aprender idiomas. Geralmente é uma troca, você ensina pessoas que querem aprender português e em contrapartida você conversa com um nativo da língua inglesa. Muita gente pratica via skype, basta perder a vergonha e começar a convidar pessoas.

Mas agora você deve estar com uma baita interrogação na cabeça: “Mas se não me corrigem, como eu vou aprender a falar certo?”. Ótima pergunta. E a resposta é: estudando, lendo, vendo filmes em inglês, ouvindo e cantando músicas, procurando memorizar frases e situações, enfim, expondo-se o máximo possível ao inglês falado corretamente.

Com o tempo o seu conhecimento da língua inglesa irá aumentando e você conseguirá se expressar corretamente. Pode acreditar que funciona 🙂

E você, tem alguma ideia para praticar a conversação? Se tiver me escreva contando a sua ideia 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *