Os segredos do aprendizado de um novo idioma

© Lýdia Machová

Tradução de Maurício Kakuei Tanaka e revisão por Maricene Crus.

Fonte: TED.com, The Secrets of learning a new language

Adoro aprender idiomas estrangeiros. De fato, amo tanto que gosto de aprender um novo idioma a cada dois anos. Atualmente, estou em meu oitavo idioma. Quando as pessoas descobrem isso, elas me perguntam: “Como você faz isso? Qual é o seu segredo?” Para ser sincera, por muitos anos, minha resposta era: “Não sei, simplesmente adoro aprender idiomas”. Mas elas nunca ficavam felizes com a resposta. Queriam saber por que passavam anos tentando aprender um único idioma e nunca alcançavam a fluência, e aqui estou eu, aprendendo um idioma após o outro. Elas queriam saber o segredo dos poliglotas, pessoas que falam muitos idiomas. Isso também me fez pensar: “Como é que outros poliglotas fazem isso? O que temos em comum? E o que é que nos permite aprender idiomas muito mais rápido do que outras pessoas?” Decidi conhecer outras pessoas como eu e descobrir isso.

O melhor lugar para conhecer muitos poliglotas é um evento em que centenas de amantes de idiomas se reúnem em um só lugar para praticar seus idiomas. Há vários eventos poliglotas organizados em todo o mundo, e, então, decidi ir lá e perguntar aos poliglotas sobre os métodos que eles usam.

Então, conheci Benny, da Irlanda, que me disse que o método dele é começar a falar desde o primeiro dia. Ele aprende algumas frases de um livro de frases de viagem, encontra-se com falantes nativos e começa a ter conversas com eles imediatamente. Ele não se importa de cometer até 200 erros por dia, porque é assim que ele aprende, baseado no feedback. O melhor é que ele nem precisa viajar muito hoje, porque pode-se facilmente ter conversas com falantes nativos no conforto de sua sala de estar, por meio de sites.

Também conheci o Lucas, do Brasil, que tinha um método muito interessante para aprender russo. Ele simplesmente incluía 100 falantes aleatórios de russo no Skype como amigos. Então, abria uma janela de bate-papo com um deles e escrevia “Oi” em russo. E a pessoa respondia: “Oi, como vai você?” Lucas copiava isso e colocava em uma janela de texto com outra pessoa, e a pessoa respondia: “Estou bem, obrigado, e você?” Lucas copiava isso de volta para a primeira pessoa, e assim ele tinha dois estranhos conversando entre si sem saber disso.

Logo ele mesmo começava a digitar, porque teve tantas dessas conversas que descobriu como a conversa russa geralmente começa. Que método engenhoso, não é mesmo?

Depois conheci poliglotas que sempre começam imitando sons do idioma, e outros que sempre aprendem as 500 palavras mais frequentes do idioma, e ainda outros que sempre começam lendo sobre a gramática. Se eu perguntasse a 100 poliglotas diferentes, ouviria centenas de abordagens diferentes para aprender idiomas. Todos parecem ter uma maneira única de aprender um idioma, e, no entanto, todos chegamos ao mesmo resultado de falar vários idiomas fluentemente.

Enquanto eu ouvia esses poliglotas me contando sobre os métodos deles, de repente, comecei a perceber: a única coisa que todos nós temos em comum é que simplesmente encontramos maneiras de curtir o processo de aprendizagem de idiomas. Todos esses poliglotas falavam sobre esse aprendizado como se fosse muito divertido. Vocês deveriam vê-los quando me mostravam seus gráficos gramaticais coloridos e cartões cuidadosamente feitos à mão e as estatísticas sobre aprendizagem de vocabulário com aplicativos, ou até mesmo como gostam de cozinhar com base em receitas em um idioma estrangeiro. Todos eles usam métodos diferentes, mas sempre se certificam de que seja algo que curtam pessoalmente. 

Percebi que é assim que, na verdade, eu mesma aprendo idiomas. Quando eu estava aprendendo espanhol, ficava entediada com o livro didático. Quer dizer, quem quer ler sobre Jose perguntando sobre as direções para a estação de trem, certo? Eu queria ler “Harry Potter” em vez disso, porque era meu livro favorito, que li muitas vezes quando eu era criança. Então, peguei a tradução em espanhol de “Harry Potter” e comecei a ler e, com certeza, não entendi quase nada no início, mas continuei lendo porque adorava o livro e, no final, pude acompanhá-lo quase sem problemas. O mesmo aconteceu em meu aprendizado de alemão. Decidi assistir a “Friends”, minha série de TV favorita, em alemão, e, novamente, no começo, tudo era apenas incompreensível. Eu não sabia onde terminava uma palavra e começava outra, mas continuei a assistir, porque é “Friends”. Posso assistir em qualquer idioma; adoro tanto. E, após a segunda ou terceira temporada, é sério, o diálogo começou a fazer sentido. 

Só me dei conta disso depois de conhecer outros poliglotas. Não somos gênios e não temos atalhos para aprender idiomas. Simplesmente encontramos maneiras de curtir o processo, como transformar a aprendizagem de idiomas de um assunto escolar chato em uma atividade agradável que não nos importamos em fazer todos os dias. Se você não gosta de escrever no papel, sempre pode digitar num aplicativo. Se você não gosta de ouvir material didático chato, encontre conteúdo interessante no YouTube ou em podcasts para qualquer idioma. Se você for mais introvertido e não conseguir conversar com falantes nativos imediatamente, poderá aplicar o método da auto-conversação: conversar consigo mesmo, no conforto de seu quarto, descrevendo planos para o fim de semana, como foi seu dia, ou até tirar uma foto aleatória pelo telefone e descrevê-la para seu amigo imaginário. É assim que os poliglotas aprendem idiomas, e a melhor notícia é que está disponível para qualquer um que esteja disposto a assumir o controle de seu aprendizado.

Conhecer outros poliglotas me ajudou a perceber que é realmente importante encontrar satisfação no processo de aprendizagem de idiomas, mas também essa alegria em si não é o bastante. Se quiser adquirir fluência em um idioma estrangeiro, você também precisará aplicar mais três princípios.

Antes de tudo, você precisará de métodos eficazes. Se você tentar memorizar uma lista de palavras para um teste amanhã, elas serão armazenadas na memória de curto prazo e você as esquecerá após alguns dias. Se, no entanto, quiser manter as palavras a longo prazo, você precisará revisá-las em alguns dias, repetidamente, usando a chamada repetição espaçada. Você pode usar aplicativos baseados nesse sistema, como Anki ou Memrise, ou escrever listas de palavras no caderno, usando o método Gold List, que também é muito popular com muitos poliglotas. Se não tiver certeza de quais métodos são eficazes e do que está disponível, basta verificar canais do YouTube e sites dos poliglotas e inspirar-se neles. Se funciona para eles, provavelmente funcionará para você também.

O terceiro princípio a seguir é criar um sistema em seu aprendizado. Estamos muito ocupados, e ninguém realmente tem tempo para aprender um idioma hoje. Mas podemos criar esse tempo se apenas planejarmos um pouco à frente. Você consegue acordar 15 minutos mais cedo do que de costume? Seria o momento perfeito para revisar algum vocabulário. Consegue ouvir um podcast em seu caminho para o trabalho enquanto dirige? Isso seria ótimo para obter alguma experiência auditiva. Há tantas coisas que podemos fazer sem sequer planejar esse tempo extra, como ouvir podcasts em nosso caminho para o trabalho ou durante as tarefas domésticas. O importante é criar um plano para o aprendizado: “Vou praticar a conversação toda terça e quinta com um amigo por 20 minutos. Vou ouvir um vídeo do YouTube enquanto tomo café da manhã”. Se você criar um sistema para seu aprendizado, não precisará encontrar tempo extra, porque ele se tornará parte de seu dia a dia.

Finalmente, se você quiser aprender um idioma fluentemente, também precisará de um pouco de paciência. Não é possível aprender um idioma dentro de dois meses, mas, com certeza, será possível fazer um progresso visível em dois meses, se você aprender em pequenas partes todos os dias de uma forma que você goste. E não há nada que nos motiva mais do que nosso próprio sucesso.

Eu me lembro claramente do momento em que entendi a primeira piada em alemão ao assistir a “Friends”. Fiquei tão feliz e motivada que continuei assistindo, naquele dia, a mais dois episódios e, enquanto continuava assistindo, tive cada vez mais desses momentos de compreensão, dessas pequenas vitórias, e, passo a passo, cheguei a um nível em que conseguia usar o idioma de maneira livre e fluente para expressar qualquer coisa. É um sentimento maravilhoso. Quero vivenciá-lo cada vez mais e é por isso que aprendo um idioma a cada dois anos.

Então, esse é todo o segredo do poliglota. Encontre métodos eficazes que possa usar sistematicamente por um período de tempo, de uma forma que você goste. É assim que os poliglotas aprendem idiomas dentro de meses, não anos. 

Alguns de vocês devem achar: “Tudo isso é bom para a aprendizagem de idiomas, mas será que o verdadeiro segredo não é o fato de os poliglotas serem supertalentosos, e a maioria de nós não?

Bem, há uma coisa que não contei a vocês sobre Benny e Lucas. Benny teve 11 anos de gaélico irlandês e 5 anos de alemão na escola. Ele não sabia, de forma alguma, falar esses idiomas ao se formar. Até os 21 anos, ele achava que não tinha o gene da linguagem e não conseguia falar outro idioma. Então, ele começou a procurar “o modo dele” de aprender idiomas, que foi conversar com falantes nativos e receber feedback deles, e hoje Benny pode facilmente ter uma conversa em dez idiomas. Lucas tentou aprender inglês na escola por dez anos. Ele era um dos piores alunos da turma. Seus amigos até zombaram dele e lhe deram um livro de russo como piada, porque achavam que ele nunca aprenderia esse idioma ou qualquer outro. Então, Lucas começou a experimentar métodos, a procurar seu próprio jeito de aprender, por exemplo, conversando no Skype com estranhos. E, depois de apenas 10 anos, Lucas é capaz de falar 11 idiomas fluentemente.

Parece milagre? Bem, vejo esses milagres todos os dias. Como mentora de idiomas, ajudo as pessoas a aprender idiomas sozinhas, e vejo isso todos os dias. As pessoas lutam com a aprendizagem de idiomas por 5, 10, até 20 anos e então, de repente, assumem o controle de seu aprendizado, começam a usar materiais de que gostam, métodos mais eficazes, ou começam a seguir seu aprendizado para que possam apreciar seu próprio progresso. É o momento em que, de repente, encontram, de forma mágica, o talento para idiomas, que estavam perdendo a vida toda.

Se você também tentou aprender um idioma e desistiu, achando que é muito difícil, ou que não tem o talento para idiomas, tente novamente. Talvez também esteja prestes a encontrar um método divertido de aprender esse idioma fluentemente. Talvez esteja prestes a encontrar um método para se tornar um poliglota. 

Assista agora ao vídeo!

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