Transformando a Confusão em Conhecimento: Benefícios do Desconforto no Aprendizado

8 de agosto de 2024 rubens.queiroz

O processo de aprendizado de idiomas em escolas tradicionais é cuidadosamente calibrado para não gerar desconforto ou confusão na mente dos alunos. A informação é fornecida a conta gotas e o aluno raramente é incentivado a seguir estudando fora da sala de aula. Desta forma, os alunos se expõem, na média, a 3 horas semanais de estudos, o que resulta em um tempo de aprendizado extremamente longo, variando de 4 a 8 anos.

Sem dúvida, excelente para a escola e péssimo para o aluno. Nem todos podem esperar tanto tempo. Mesmo assim, a taxa de desistência é assustadora, pois também a maioria das escolas não contempla o lado emocional do aluno, concentrando-se exclusivamente nos aspectos formais do idioma. Muitos aspectos absolutamente normais do processo de aprendizado de idiomas são frequentemente confundidos pelos alunos como deficiências pessoais, o que os leva a desistir prematuramente do aprendizado, privando-se desta forma de um conhecimento de extremo valor em suas carreiras e vida pessoal.

Além do mais, e isto é relatado por diversas pessoas que, após vários anos de estudo, afirmam se sentirem totalmente perdidas ao visitarem um país cuja língua nativa seja o inglês. Não conseguem relacionar tudo que aprenderam em vários anos de estudo com o idioma que é falado nas ruas.

O processo de aprendizado ideal é aquele que aborda o lado emocional do estudo de idiomas, desmistificando vários mitos limitantes, ao mesmo tempo em que conscientiza os alunos da mutabilidade da forma como o idioma é falado em diferentes regiões, por pessoas diferentes.

Ou seja, estudar de forma cuidadosa, com uma metodologia cuidadosamente calibrada para eliminar o mínimo desconforto, é altamente contraproducente. O correto é expor os alunos, desde o começo, a um certo nível de confusão, com textos e atividades que vão além do conhecimento que possuem em determinado momento. Confusão traz uma conotação negativa, porém possui inúmeras vantagens.

A confusão no processo de aprendizado, muitas vezes chamada de “desconforto produtivo” ou “dissonância cognitiva”, pode ser benéfica por várias razões.

Estimulação Cognitiva: A confusão força o cérebro a trabalhar mais para resolver problemas e entender conceitos. Esse esforço adicional pode levar a uma compreensão mais profunda e duradoura do material. Quando os alunos enfrentam dificuldades, eles são obrigados a pensar criticamente e a explorar diferentes abordagens para resolver problemas. Por exemplo, em um texto com palavras desconhecidas, os alunos devem ser orientados a inferir o significado das palavras desconhecidas a partir do contexto, do relacionamento das palavras novas com as palavras já conhecidas. Embora a sensação de não conhecer um texto em sua integralidade seja desconfortável, este é um sentimento com o qual devemos aprender a enfrentar desde os primeiros dias de estudo.
Engajamento Ativo: Quando os alunos encontram algo que não entendem imediatamente, eles tendem a se envolver mais ativamente com o material. Esse engajamento pode incluir fazer perguntas, buscar informações adicionais e discutir conceitos com colegas ou professores. Esse processo de investigação ativa pode levar a um aprendizado mais significativo. Sempre que alguém me perguntava, em minhas aulas presenciais, pelo significado de uma palavra, eu respondia: “This is for me to know and for you to find out. (Isto é para eu saber e para você descobrir). Se eu simplesmente respondesse com a tradução, o aluno esqueceria da minha resposta muito rapidamente. Ao passo que se houvesse o seu envolvimento na descoberta do significado da palavra, certamente a retenção seria muito maior.
Desenvolvimento de Habilidades de Resolução de Problemas: A confusão pode ajudar os alunos a desenvolver habilidades importantes de resolução de problemas. Ao enfrentar desafios e trabalhar para superá-los, os alunos aprendem a lidar com a frustração e a persistir diante das dificuldades. O aprendizado de idiomas, por envolver uma grande quantidade de vocabulário e estruturas, certamente gera frustração. O aprendizado é um processo, com obstáculos ao longo do caminho. A chave é transformar possíveis frustrações em desafios a serem enfrentados e vencidos. Essas habilidades são valiosas não apenas no contexto educacional, mas também na vida cotidiana e no ambiente de trabalho.
Promoção da Metacognição: A confusão pode levar os alunos a refletirem sobre seu próprio processo de aprendizado, uma prática conhecida como metacognição. Ao reconhecer que estão confusos, os alunos podem avaliar suas estratégias de aprendizado e fazer ajustes conforme necessário. Isso pode ajudá-los a se tornarem aprendizes mais eficazes e autônomos. Cada um de nós possui características próprias de aprendizado. Entender que isso é normal e desejável, encoraja os alunos a buscarem estratégias de aprendizado que sejam mais adequadas às suas características pessoais. Especialmente no estudo de idiomas, este conhecimento é fundamental para o sucesso.
Facilitação da Transferência de Conhecimento: Quando os alunos resolvem problemas complexos e confusos, eles são mais propensos a transferir esse conhecimento para novas situações. A capacidade de aplicar o que aprenderam em diferentes contextos é um sinal de aprendizado profundo e flexível.
Incentivo à Colaboração: A confusão pode incentivar os alunos a colaborar com seus colegas. Ao discutir problemas e compartilhar diferentes perspectivas, os alunos podem chegar a uma compreensão mais completa e robusta do material. A colaboração também pode ajudar a construir habilidades sociais e de comunicação.
Aumento da Motivação: Superar a confusão pode ser uma experiência gratificante e motivadora. Quando os alunos finalmente entendem um conceito difícil, eles podem sentir um senso de realização e confiança em suas habilidades. Isso pode aumentar sua motivação para continuar aprendendo e enfrentando novos desafios.